terça-feira, 2 de março de 2010

A BESTIALIDADE DO TROTE ACADÊMICO

A BESTIALIDADE DO TROTE ACADÊMICO






O homem ao longo do tempo caminha inexoravelmente em busca de sua evolução física, moral, intelectual e espiritual. Nesse contexto, conhece-se o passado através da história e se projeta para o futuro, sem se afastar do presente, buscando, sobretudo, não repetir os erros do passado.

O jovem na trilha desse caminho experimenta transformações, sonhos e também desilusões, chegando a questionar todos os valores recebidos e a pensar em algum momento que pode mudar e revolucionar o mundo. Normalmente essa agitação ocorre na adolescência, principalmente na faixa etária dos 16 anos, quando o jovem experimenta transformações extraordinárias em seu corpo e mente e se manifestam os conhecidos excessos da juventude.

Causa-nos espécie, entretanto, que homens que ultrapassaram a fase da adolescência e que adentraram, com todas as dificuldades conhecidas, na vida universitária, onde presumivelmente se formam profissionais qualificados para servirem na sociedade, ainda praticam atos draconianos, animalescos, como os “trotes” a que são submetidos os calouros , numa demonstração inequívoca da involução que aproxima o homem do animal irracional, denotando assim, toda a degenerescência humana. A bem da verdade, é curial que se esclareça: esses atos ilícitos a que são submetidos os novos acadêmicos – “ calouros” – podem, dependendo da forma como são praticados, constituir tipos penais, como o crime de constrangimento ilegal, Injúria real, lesão corporal, dentre outros, sem prejuízo de a vítima ajuizar ação cível por danos morais contra os autores dos fatos, pois tais atos atingem frontalmente o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana. Esses fatos típicos normalmente são praticados por alguns “veteranos”, já prestes a concluir a graduação, e sob o olhar complacente e até participativo de alguns integrantes do corpo docente. A história recente registra casos de trotes acadêmicos que redundaram na morte por afogamento de um estudante de medicina em São Paulo, bem como de outro que quase levou à morte um estudante de odontologia, o qual teve traumatismo craniano. Esses fatos aliados a outros que já aconteceram seriam suficientes para banir, definitivamente, esses abomináveis procedimentos da vida universitária, entretanto, o que se observa é a sua disseminação como se nada tivesse acontecido absolutamente. Na semana passada, por exemplo, alunos de medicina de uma faculdade do interior de São Paulo locaram uma fazenda e submeteram os “calouros” a uma sessão bestial de torturas físicas e mentais, com direito a desferir tapas na cara de calouros, a passar na cabeça dos mesmos fígado de boi estragado e outros atos animalescos. A que serve essa bestialidade? Onde estão os valores éticos e de formação familiar desses veteranos? Será que a sociedade pode confiar nesses profissionais? Os veteranos, se assim podem ser chamados, retornando ao obscuro mundo das trevas e demonstrando atitudes absolutamente infantis e bestiais, interrompem aulas imotivadamente ao som de gritos estridentes , constrangem pessoas(mulheres , homens) a se pintar, a dançar na garrafa, a se jogar na piscina, entre outras patifarias que revelam, induvidosamente, os valores granjeados por parte desses “veteranos” energúmenos. Esse retrocesso denota a absorção por parte desses veteranos do “lixo” e dejetos expelidos pela baixa mídia que incentiva a licenciosidade e a briga de vizinhos ingeridos passivamente pelo jovem autômato.

O jovem acadêmico, principalmente, deve ser pensador, crítico e não mero receptor passivo de informações. O amanhã, mais do que nunca, precisa da juventude sadia de hoje, que possa, de fato, transformar o meio social e promover as qualidades morais e intelectuais do homem, no sentido de que possamos ter uma vida digna, onde preponderem os valores do respeito, da lealdade, fraternidade, solidariedade, justiça, igualdade, amor, enfim, um mundo melhor, no qual seja diminuída as desigualdades sociais e implantada a verdadeira justiça social. Nesse contexto, acredito que “os veteranos” poderiam começar a pensar nesse futuro e assim se libertar desse “id bestial, para se focar no profissionalismo ético e nas ações de cidadania . Por mais paradoxal que possa parecer à primeira vista, não será preciso, necessariamente, acabar com os “trotes acadêmicos”, mas transformá-los em atos elevados e altruísticos, como por exemplo, treinando a virtude sublime da caridade e ensaiando os sentimentos de solidariedade humana, a fim de que possa o acadêmico sentir de perto o sofrimento humano e enxugar as lágrimas de nossos irmãos sofredores. Porque não aproveitam o momento do trote para doar sangue, visitar e fazer uma ação solidária nos abrigos de idosos e de crianças e adolescentes? com certeza, o trote acadêmico seria bem aceito pela comunidade, pois estaria em consonância com o estágio educacional dos “veteranos” e dentro da expectativa que todos criamos em torno da massa privilegiada que cursa uma universidade, no sentido de que estaria devolvendo à sociedade um pouco daquilo que aprenderam nos bancos acadêmicos.

Assim agindo, com certeza, nossos “veteranos” estarão mergulhando no seu mais profundo íntimo e evoluindo como jovem pensador na escala natural do aprimoramento moral , intelectual e espiritual do ser humano, e passariam a merecer, portanto, não apenas o respeito, mas a admiração de todos.



MARCOS BANDEIRA

Um comentário:

  1. Verdade, eu mesmo ja sofri trotes, é complicado isso ai.
    Agora como veterano tomo cuidado para que não recaia a mesma coisa com os calouros.

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